Matéria originalmente publicada em www.pointcm.com.br – 21/08/2022
Por ser um dos maiores produtores e exportadores de carne do mundo, não é surpresa que o Brasil também detenha muitos desafios nesse segmento. Um dos principais é aliar produtividade e sustentabilidade, já que uma preocupação crescente do setor está em reduzir as emissões de metano – gás liberado pelos bovinos no processo digestivo. Além disso, uma produção com baixa emissão de carbono também se tornou objetivo número um dessa cadeia. Segundo Sergio Raposo de Medeiros, pesquisador em Nutrição Animal da Embrapa Pecuária Sudeste, uma propriedade que pratica a pecuária sustentável é aquela feita com respeito ao social, ambientalmente correta e economicamente viável. “Deve-se começar ter margem econômica suficiente para, além de se justificar como atividade econômica, ir além de suas obrigações sociais e manter as áreas de proteção ambiental”, explica.
De modo geral, o impacto ambiental da pecuária no Brasil já é pequeno, pois a base de produção é a pasto. Os produtores brasileiros também são responsáveis por preservar 25% de todo o território do país, de acordo com o Código Florestal – que estabelece uma porcentagem de preservação de acordo com cada bioma.
Protagonismo em produção sustentável
Segundo a publicação Indicadores de Produtividade e Sustentabilidade do Setor Agropecuário Brasileiro, divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), “o Brasil se destaca como um dos líderes e protagonistas na construção de uma economia de baixo carbono. Com base nos indicadores analisados, foi possível verificar a contribuição nacional e o esforço brasileiro na produção sustentável. Não há dúvida de que o País é exemplo a se destacar no contexto internacional em termos da produção agropecuária com sustentabilidade produtiva”, registra o estudo.
A economia de baixo carbono é um sistema que fomenta o uso racional de recursos naturais na busca de ter o menor impacto possível no meio ambiente, reduzindo ou eliminando a emissão de gases de efeito estufa (GEE). A redução das emissões desses gases está prevista em metas assumidas pelo Brasil em acordos internacionais. O estudo do IPEA mostra ainda que o Brasil vem aumentando continuamente a sua produtividade agropecuária e, ao mesmo tempo, conseguindo se destacar na economia de baixo carbono e preservar, em razão da melhoria dos índices de eficiência técnica produtiva no setor. Para ter uma ideia da produtividade do setor, nos últimos 40 anos, a produção de carne de aves aumentou 22 vezes; a de carne suína, bovina e leite, 4 vezes. Pesquisas em genética, avanços no controle de pragas e doenças e a melhoria das pastagens aumentaram de 11% para 22% a média de desfrute dos rebanhos bovinos de corte.
Para que o impacto seja ainda menor, o investimento em tecnologias que aumentem a produtividade é fundamental, permitindo a produção de mais carne e leite com os mesmos recursos e aumento da lucratividade. Entre as principais técnicas utilizadas e popularizadas no Brasil estão a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), o encurtamento de ciclo, a nutrição e a suplementação animal.
Diversas empresas, entidades e organismos governamentais vêm ampliando estudos e investimentos para expandira pecuária sustentável nacionalmente. Caso da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais(ASBRAM), que incentiva o uso de suplementos e a importância da sua utilização correta, visando melhorar os níveisda produção agropecuária. Uma das fabricantes associadas, a Elanco divulgou um estudo, em 2021, atestando que a nutrição é peça-chave para esse modelo pecuário.
Totalmente focada na sustentabilidade do setor, a MyCarbon, subsidiária da Minerva Foods, foi criada em 2021 para desenvolver e comercializar crédito de carbono, e já fechou o seu primeiro contrato para a redução certificada de emissões de gases de efeito estufa.
Fortalecimento da pecuária sustentável no Brasil
Em 2007, quando a pressão internacional e nacional sobre as taxas de desmatamento ganhava novos patamares, um coletivo de líderes do setor agropecuário brasileiro, representantes da indústria, produtores e outras organizações civis criou o GTPS – Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, a primeira organização mundial com o propósito de fortalecer a pecuária sustentável.
O GTPS conta com organizações associadas dos seis elos da cadeia de produção bovina: produtores rurais; empresas de insumos e serviços; indústrias e frigoríficos; varejos e restaurantes; instituições financeiras; e a sociedade civil. “Hoje somos mais de 60 organizações associadas que somam forças, agregam diferentes pontos de vista e trazem diversas experiências para debates sobre temas relevantes e que estão em alta no cenário da pecuária”, assegura o atual presidente do Grupo, Sergio Schuler.
Atuando de ponta a ponta na cadeia, ao longo dos 15 anos de história, o GTPS se transformou na “voz da pecuária sustentável”, como a gestão costuma dizer. O formato de trabalho do Grupo inspirou a criação da Mesa-redonda Global de Carne Bovina Sustentável (GRSB) e motivou iniciativas similares em outros 11 países e regiões, como Canadá, Estados Unidos, Europa, Colômbia, Nova Zelândia, México, Austrália, Argentina entre outros.
Em 2021, todos os seus membros associados firmaram um compromisso público em favor da pecuária sustentável que pretende, além de reforçar o potencial de conservação da atividade no Brasil, estimular os diversos atores que fazem parte da cadeia produtiva a unirem esforços nesse sentido, inclusive os governos estaduais e o federal.
A gerente executiva do Grupo, Luiza Bruscato, afirma que a organização pretende se consolidar como um centro de referência no tema, ampliar e reforçar o engajamento multistakeholder (multipartite) dos diversos atores da cadeia e ser a voz do setor, fortalecendo uma comunicação desde o produtor até o consumidor.
Uma das propostas é estimular um entendimento comum da cadeia a partir do debate de temas complexos e emergentes entre os seus públicos estratégicos, incluindo pesquisadores e especialistas convidados. Atualmente, há três grupos de trabalho em atuação: Clima (emissões de GEE), Rastreabilidade e Terra (mudança do uso do solo).
Na parte do engajamento multissetorial, o GTPS visa promover metas e compromissos dos elos da cadeia da pecuária bovina. Nessa frente, o Grupo propõe e define metas e indicadores de sustentabilidade, constrói e harmoniza pactos e compromissos e fortalece o Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável (GIPS).
Por fim, o eixo de comunicação, segundo o Grupo, foi criado para ser “a voz do setor no Brasil e no mundo”. Com o propósito de disseminar a verdade e divulgar as boas práticas da pecuária bovina brasileira, eles promovem o Fórum da Pecuária Sustentável e o Mapa de Iniciativas da Pecuária Sustentável (MIPS), entre outras iniciativas.